
Nos últimos anos, tornou-se comum ouvir frases como:
“Tenho imensa dificuldade em concentrar-me, devo ter PHDA.”
“Sou desorganizado, começo mil coisas e não acabo nenhuma — deve ser PHDA.”
A perturbação de hiperatividade com défice de atenção (PHDA) é uma condição clínica reconhecida e classificada no DSM‑5‑TR, caracterizada por padrões persistentes de desatenção, impulsividade e/ou hiperatividade que interferem de forma significativa com o funcionamento diário.
Mas será que todas as distrações, esquecimentos ou dificuldades de foco indicam uma perturbação?
E por que razão tantas pessoas se identificam (ou se autoidentificam) com este diagnóstico?
Vivemos num mundo distraído — mas isso não é PHDA
É importante distinguir entre:
-Sintomas ocasionais de desatenção, comuns em ambientes com excesso de estímulos;
-Estados de fadiga ou sobrecarga emocional, que afetam a concentração;
-E a PHDA clínica, que se manifesta desde a infância, com impacto real e duradouro no desempenho académico, social e/ou profissional.
A PHDA não é "estar cansado", nem é sinónimo de "ser distraído". É uma condição neuropsiquiátrica complexa, que envolve alterações na regulação da atenção, da motivação e do comportamento impulsivo.
Por que é que tantas pessoas se identificam com os sintomas?
Várias razões contribuem para este fenómeno:
1. Aumento da informação (e da desinformação)
A divulgação de conteúdos sobre PHDA nas redes sociais ajudou a aumentar a consciencialização, mas também contribuiu para interpretações erradas. Muitos vídeos e textos simplificam em excesso o diagnóstico, levando a autoavaliações imprecisas.
2. Estilo de vida moderno
Vivemos num mundo acelerado, multitarefa, hiperconectado, com níveis elevados de stress e privação de sono — todos fatores que afetam diretamente a capacidade de concentração e foco.
Não é PHDA. É cansaço crónico, sobre-estimulação e falta de pausas conscientes.
3. Desejo de explicação
É humano querer um nome para o que se sente. Identificar-se com a PHDA pode ser uma forma de explicar a desorganização interna, o cansaço mental ou a sensação de inadequação — mas um diagnóstico não deve ser uma explicação rápida para o mal-estar emocional.

Como saber quando procurar ajuda?
Sinais de alerta que podem justificar uma avaliação psicológica ou psiquiátrica:
-Dificuldade significativa e persistente em manter a atenção em tarefas importantes;
-Esquecimentos frequentes, mesmo em rotinas simples;
-Procrastinação crónica com prejuízo real para o trabalho ou estudos;
-Comportamentos impulsivos que prejudicam relações ou decisões;
-Sintomas presentes desde a infância (mesmo que apenas reconhecidos agora).
O diagnóstico de PHDA não deve ser feito com base numa autoavaliação ou num teste online. É necessária uma análise clínica cuidadosa, que envolva o historial de vida, contexto familiar e impacto funcional.
Atenção: a PHDA também existe em adultos
Embora a PHDA seja geralmente identificada na infância, muitos adultos nunca foram diagnosticados. Quando não tratada, pode levar a:
- Ansiedade e baixa autoestima
- Dificuldades em manter rotinas ou relações
- Sensação de nunca “chegar onde se queria”
A boa notícia é que, com intervenção adequada, é possível desenvolver estratégias, ganhar foco e melhorar a qualidade de vida.
Nem todas as distrações são sinal de PHDA. Mas também não devemos desvalorizar o sofrimento real de quem vive com esta perturbação. O mais importante é evitar rótulos precipitados e procurar avaliação clínica especializada, sempre que existir dúvida ou sofrimento emocional associado.
A psicologia não serve para rotular. Serve para compreender e cuidar.
Se sente que perdeu o controlo da sua atenção, da sua motivação ou da sua organização pessoal, não está sozinho.
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