Há um tipo de cansaço que não passa com uma boa noite de sono. Um vazio que se instala, mesmo entre aulas, cafés e bibliotecas. O burnout académico, cada vez mais prevalente entre estudantes universitários, não é apenas “stress a mais”. É uma síndrome reconhecida, caracterizada por exaustão emocional intensa, despersonalização (ou seja, distanciamento emocional em relação às tarefas e colegas) e uma profunda sensação de ineficácia perante as exigências académicas.
É uma realidade crescente em Portugal — silenciosa, mas devastadora. Os fatores de risco são claros: carga horária excessiva, pressão para ter sucesso, conciliar estudos com trabalho e relações interpessoais exigentes com colegas ou docentes. Tudo isso cria o terreno fértil para um esgotamento emocional com impacto significativo na saúde mental.
Sintomas Que Não Devem Ser Normalizados
Quem sofre de burnout académico sente-se esgotado, mas também desmotivado, ansioso(a), deprimido(a) e, muitas vezes, com baixa autoestima e sentimento de falhanço constante. Estes sintomas afetam diretamente a capacidade de concentração, o rendimento académico e a persistência no curso. E não, não desaparecem sozinhos. Sem intervenção clínica, o risco de abandono escolar ou agravamento do quadro psicológico é real.
Psicadélicos: Esperança ou Risco?
Nos últimos anos, a ciência tem reaberto o debate sobre o uso de psicadélicos, como a psilocibina, no tratamento de perturbações psicológicas resistentes.
Limites e Riscos
Contudo, é fundamental compreender que estes efeitos não são garantidos. Há relatos de experiências negativas com consequências duradouras, como ansiedade crónica, episódios psicóticos transitórios e, em casos mais graves, perturbações perceptivas persistentes, com alucinações visuais recorrentes — um quadro clínico reconhecido e potencialmente incapacitante.
Na Clínica Tear, acreditamos que qualquer caminho terapêutico deve ser informado, ético e integrativo. O uso de psicadélicos, quando considerado, deve obedecer a critérios muito claros:
- Avaliação clínica rigorosa, com foco na história pessoal, saúde mental e objetivos terapêuticos;
- Preparação e integração psicoterapêutica, antes e depois da experiência psicoativa;
- Supervisão médica e psicológica permanente, num ambiente seguro e controlado;
- Reforço das abordagens validadas, como a psicoterapia cognitivo-comportamental, gestão do tempo e do sono, e apoio psicossocial adaptado ao contexto universitário.
A resposta está na combinação entre inovação científica e acompanhamento clínico contínuo. Não se trata apenas de tratar os sintomas, mas de compreender o que levou ao colapso, reconstruir uma narrativa de capacidade e devolver ao(à) estudante a autorregulação emocional e académica que lhe foi retirada pelo desgaste.
Estratégias para Tratar o Burnout Académico
O tratamento deve ser integrado e personalizado, após a consulta de avaliação, e inclui:
1. Psicoeducação – Ajuda o(a) estudante a compreender que o que sente é legítimo e tratável.
2. Terapia Cognitivo-Comportamental – Corrige padrões de pensamento disfuncionais e desenvolve competências de regulação emocional.
3. Reorganização das rotinas – Promove equilíbrio entre estudo, descanso e autocuidado.
4. Treino de assertividade – Melhora relações interpessoais e reduz conflitos académicos.
5. Acompanhamento psiquiátrico – Em casos moderados a graves, pode ser necessário recorrer a medicação.
6. Mindfulness – Técnicas de presença e relaxamento ajudam a restaurar foco e reduzir ansiedade.
7. Envolvimento familiar – Em casos indicados, contribui para um ambiente de suporte emocional.
O burnout académico não desaparece por si só. Requer apoio clínico especializado para que o(a) estudante recupere bem-estar, motivação e equilíbrio emocional.
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